A websérie Casa da Cultura Açoriana de Palhoça foi pensada para ser em Libras. O trabalho de produção envolveu estudantes e profissionais de produção multimídia e de tradução e interpretação ao longo de todo o projeto, e teve como foco o espectador surdo.

Durante o processo de pesquisa para a definição do tema, a equipe observou que a cultura açoriana é pouco reconhecida pelas pessoas, apesar de estar sempre presente no cotidiano dos catarinenses na gastronomia, em peças de cerâmicas, em trilhos de renda de bilro que enfeitam muitos espaços, entre tantos outros detalhes. Perceberam que faltam materiais relacionados a essa cultura e, infelizmente, que inexistem informações a respeito da cultura açoriana em Libras. Ou seja, os surdos não dispõem de materiais em sua língua materna – a Libras.  

Apesar disso, há pequenas comunidades que se empenham em manter viva a existência dessa cultura, como é o caso da Enseada de Brito, em Palhoça. Foi daí que surgiu a ideia de desenvolver a websérie bilíngue (Libras/Português) sobre a casa de cultura açoriana.

Com isso, iniciaram o trabalho de levantamento de dados e resgataram uma exposição fotográfica do patrimônio histórico da cidade de Palhoça, realizada em 2016, sob o título “Resgate da Memória Palhocense: saberes e fazeres da Casa de Cultura Açoriana de Palhoça”. A exposição foi resultado de um trabalho desenvolvido por estudantes do IFSC com orientação dos professores Gustavo Cossio e Ana Paula Jung, e documentou traços da cultura açoriana em um percurso que vai da praça Enseada do Brito até o centro da cidade.

A exposição foi apresentada em shoppings da região e foi um sucesso, o que despertou o interesse de grupo em dar continuidade ao projeto na websérie. 

A Enseada de Brito foi escolhida por ser o marco inicial de ocupação e formação territorial do município de Palhoça. Ali encontram-se várias construções tombadas como patrimônio histórico, entre elas a Igreja Nossa Senhora do Rosário, datada de 1750, várias casas com arquitetura de base açoriana e, em uma delas, a Casa de Cultura

A Casa de Cultura Açoriana de Palhoça, também conhecida como Casarão da Enseada de Brito, se destaca não apenas pelo prédio histórico, mas por promover constantemente atividades culturais, sociais, de educação e de lazer. A casa de cultura estimula e promove festejos, eventos populares e várias ações ligadas ao desenvolvimento artístico e cultural açoriano atuando intensamente no fortalecimento de atividades culturais e na transferência de saberes entre as gerações. 

ETAPAS DO PROJETO

O projeto teve como público-alvo a comunidade surda, usuários da casa de cultura e comunidade palhocense. O fluxo de produção da websérie foi dividido em três etapas: pré-produção, produção e pós-produção.

PRÉ-PRODUÇÃO

Na pré-produção foi realizado um levantamento bibliográfico e conversas com usuários da casa de cultura. Por meio dessas conversas confirmou-se que existe uma tendência de desaparecimento da cultura açoriana. O resgate e registro dessa cultura se mostrou importante por fazer parte da manutenção da história de Santa Catarina e da vida dos cidadãos. 

O mais importante no trabalho não é o registro, e sim a ideia de promover a identificação com essa cultura tão presente. E mais, fazer isso levando em consideração a cultura surda. 

A equipe se reuniu e discutiu quais conteúdos e atividades desenvolvidas na Casa da Cultura Açoriana de Palhoça seriam utilizados e como poderiam ser estruturados os vídeos para envolver e atrair o espectador. Definiram que os aspectos visuais precisavam ser valorizados, mas deveriam ser trabalhados de forma integrada com a língua de sinais. 

A partir dessa estruturação surgiram os temas dos episódios: História da Casa de Cultura, Cerâmica, Renda de Bilro, Artes aplicadas, Cultura viva e Créditos. E assim foi elaborado o roteiro.

A equipe destacou a importância da integração entre os profissionais de produção multimídia e de tradução e interpretação para que o material fosse bilíngue e principalmente pensado tanto para as características específicas do público surdo, como para o público ouvinte. 

Na área da Tradução e Interpretação de Libras pudemos atuar na criação do roteiro de conteúdo, glosa e sinalização. Já a equipe de Produção em Multimídia atuou no roteiro de ilustração e edição. Contudo, trabalhos assim, permitem adquirir experiência no trabalho em equipe e a troca de saberes entre os dois cursos. O curso da Tradução evoluiu bastante em edições de vídeos e filmagens por conta desse contato com o Curso Produção multimídia. Assim como os alunos de Produção Multimídia também ampliaram seus saberes a respeito da Língua de Sinais. Todo conhecimento adquirido durante esses cinco meses de projeto foi de extrema importância para todos os que participaram, e com certeza somou na formação de cada um deles.

Suelen

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Nessa etapa tiveram também que organizar o tempo, definir as atividades que cada um desenvolveria e reunir os recursos necessários, entre outros detalhes, antes de passarem para a próxima etapa do projeto. 

PRODUÇÃO

Nesta etapa foi feita a captura de imagens in loco  e em estúdio. 

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O aprendizado ao longo desses quatro meses de projeto aconteceu de maneira bem intensa, o planejamento para a captação foi uma etapa de muito estudo para termos resultados positivos e não atrasarmos o prazo. A experiência foi de caráter muito didático de maneira prática, as saídas de campo nos levam a entender como funciona os reais projetos na área de produção multimídia voltado para o audiovisual.

Glória Maria

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A captura de imagens em estúdio fez uso de chroma key ou “fundo verde”, uma técnica básica para substituir um fundo de cor sólida por outra imagem. Com a utilização dessa técnica e a aplicação de princípios gráficos, foi possível integrar as imagens e conteúdos em Libras de forma a atrair e manter a atenção dos surdos.

PÓS-PRODUÇÃO

Já na etapa da pós-produção, foram feitas as ilustrações e realizada a edição dos vídeos, bem como a legendagem, renderização e a criação do canal no YouTube para a sua publicação.

Os vídeos foram divididos em capítulos e em uma versão de documentário, todos disponibilizados por meio de um canal no YouTube.

Veja o resultado do trabalho.

Glória Maria conclui nos contando que

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A websérie sobre a casa de cultura açoriana na Enseada de Brito me fez conhecer um lugar em Palhoça que eu não conhecia, por ser apaixonada por arte e cultura agregou uma extrema experiência de valor cultural e precioso para o projeto e minha vida profissional.

Glória Maria

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