Os projetos multimídia podem ter aplicações diferentes para um mesmo tema: eles podem se apresentar em forma de livro, jogos, vídeos, audiolivro, entre outros, utilizando a tecnologia digital ou analógica. É um tipo de projeto que requer um número muito maior de especialistas envolvidos, dada a natureza de diferentes conteúdos que o projeto oferece. O projeto Mulheres de São José foi iniciado em 2020 e possui essa característica, é um projeto que teve como resultado um livro digital e um impresso, um livro traduzido para Libras, um audiolivro, um canal de podcast, um jogo de tabuleiro e um jogo de tabuleiro em Libras. Além de envolver diversas áreas de conhecimento como artes, história, interpretação, design, entre outros.

A ideia do projeto surgiu na sala dos professores do IFSC câmpus São José devido a interação da professora de Artes Sandra Albuquerque Reis Fachinello e a professora de História Ana Paula Pruner de Siqueira. As professoras delinearam um projeto de pesquisa para escrever a trajetória de mulheres que nasceram ou residiram em São José (SC) e que impactaram as mais diversas áreas: educação, reciclagem, política, cultura, assistência social, veterinária e direito. Com o projeto de pesquisa aprovado, contaram com o apoio de uma bolsista e de uma aluna voluntária.

Segundo a professora Sandra, o IFSC propõe editais que vinculam e executam a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. O projeto Mulheres de São José começou como um projeto de pesquisa, depois ele passa para um projeto de extensão contando com a participação da comunidade e está profundamente ligado ao ensino tanto na ponta (com os resultados alcançados para serem usados em sala de aula), como na formação dos participantes e comunidade em geral.

Na primeira fase do projeto, foram ouvidas muitas histórias, muitos nomes de personalidades femininas indicados e foram feitos vários contatos com instituições de ensino, entidades e associações de mulheres e grupos culturais. Depois de várias discussões e definição de critérios para a seleção, a equipe escolheu dez personalidades. 

Após a seleção, era preciso dar vida às histórias. Para tanto, diversos caminhos percorridos, por exemplo: pesquisa documental e história oral – métodos de pesquisa dificultados pelo distanciamento social e protocolos sanitários trazidos pela pandemia. Essa fase de exploração teve o objetivo de encontrar documentos, registros e objetos que identificassem os momentos significativos na vida dessas mulheres e que estivessem relacionados ao desenvolvimento da cidade.

Com isso, obteve-se um volume grande de informações e documentos que precisavam ser traduzidos em apenas 300 palavras, todas as vivências e as memórias de cada uma dessas mulheres. Assim, foi utilizada a escrita coletiva entre os membros do grupo.

Após iniciada a escrita dos textos, sentiu-se a necessidade de complementá-los com imagens. Então o grupo precisou crescer. Criaram uma oficina de ilustradoras para que dez mulheres voluntárias elaborassem as ilustrações em três encontros. Porém, estes três encontros viraram mais de seis semanas de debates e criação. Cada ilustradora tinha uma aspiração ao participar da oficina e uma caminhada distinta no mundo das artes. Isso só contribuiu para enriquecer o trabalho.

Então, depois de todo esse processo, o material foi concluído e, como resultado, temos o livro Mulheres de São José em 10 histórias em versão impressa e em PDF, com linguagem para o público infantojuvenil, acompanhado de ilustração coletiva.

O livro conta com a bela vista dos casarões do centro histórico de São José e com as histórias de mulheres que trabalharam ou estudaram nas escolas da cidade e que demonstraram ter um grande carinho pela cidade.

O projeto não parou por aí. Foi necessário desenvolver um trabalho para promover a acessibilidade de todo esse material, por parte de pessoas cegas e surdas. Assim, foi desenvolvido um canal de podcast e um audiolivro em Libras.

Para o desenvolvimento desses materiais, foi feita uma parceria com o câmpus Palhoça Bilíngue por meio da profa. Veridiane Pinto Ribeiro, que criou o projeto de extensão Encontros possíveis: diálogos entre as “10 Mulheres de São José” e a sala de aula. O projeto contou com a participação de estudantes do curso técnico de Tradução e Interpretação. 

Ainda durante o distanciamento social, foram realizados encontros síncronos para a análise dos dez textos do livro e elaboração da tradução em Libras. Foram criadas as glosas (texto em português, mas com a estrutura da Libras para facilitar o trabalho de tradução) e vários vídeos com estudos para a tradução. Depois foram selecionados os vídeos com melhor desempenho dos intérpretes para servirem de base na tradução final do livro.

É um projeto maravilhoso que evidencia a importância das mulheres na cultura e na história de uma cidade que, neste caso, é a cidade de São José.

Veridiane

Como continuidade dessa iniciativa, foi realizado outro projeto de extensão com a elaboração de um jogo com o tema das dez mulheres. O objetivo foi levar essas histórias até a rede de ensino básico e regular de São José, por meio de parceria com a Secretaria Municipal de Educação.

Em uma caça às pistas, os/as jogadores/as vão circular pelos locais da cidade, buscando encontrar documentos, registros e objetos que identificam os momentos significativos na vida dessas mulheres e que estão relacionados ao desenvolvimento da cidade. Podem jogar de 2 a 10 grupos (cada grupo pode ter 2 a 6 estudantes) com a idade recomendada de 12 anos ou mais. O tempo estimado para finalizar o jogo é de 50 minutos.

O tabuleiro do jogo conta com uma imagem da região da cidade de São José. Para cada uma das mulheres do livro foi desenvolvido uma carta com um resumo da sua história e um QR Code que leva para a história em Libras. Para conectar as mulheres com os espaços, existem alguns elementos. Assim, os jogadores vão entrando nos espaços, virando cartas de elementos, conectando com as histórias que leram e, no final, cada grupo tem que apresentar três elementos para cada história.

A intenção do jogo não é necessariamente ser competitivo, cabendo ao grupo decidir entre jogo cooperativo ou competitivo. No jogo cooperativo, cada grupo pode ser bem sucedido ao reunir as três evidências corretas.

O designer do jogo, Fábio Medeiros, afirma que:

Foi bem divertido fazer esse trabalho sendo veementemente colaborativo, tanto na produção – a gente conversando e produzindo juntos – quanto na possibilidade de criar um jogo colaborativo, uma proposta que gera interesse e curiosidade motivando as pessoas a se engajarem nas atividades relacionadas ao jogo.

Fábio Medeiros

Foi bem divertido fazer esse trabalho sendo veementemente colaborativo, tanto na produção – a gente conversando e produzindo juntos – quanto na possibilidade de criar um jogo colaborativo, uma proposta que gera interesse e curiosidade motivando as pessoas a se engajarem nas atividades relacionadas ao jogo.

Sandra

Trabalhos assim são fundamentais para fortalecer a representatividade feminina. Diante das inúmeras opressões que a sociedade impôs e ainda impõe às mulheres, recontar a história com a participação feminina, em áreas tidas muitas vezes como masculinas, contribui para a construção de uma identidade feminina que promova mais liberdade, respeito e participação igualitária na política e na sociedade.

As mulheres inspiradoras para a escrita do livro foram: Alcina Júlia da Conceição, Anna Orlandina Ramos Maciel, Aparecida Maria da Silva, Débora Rosa, Ivonilda Maria Xavier da Silva, Jane Maria de Souza Philippi, Maria Ana Raimundo, Marina Dante, Marla Sacco Martin e Marta Maria de Medeiros.