o que eles têm em comum?

Na análise realizada no trabalho de conclusão de curso em Tecnologia em Produção Multimídia, Alfredo Magron Neto selecionou quatro videoclipes que tinham em comum o sucesso no meio televisivo (na MTV), e na mídia digital (no YouTube), a fim de descobrir as principais características dos videoclipes e o que eles possuíam em comum, ou não.

Os escolhidos foram: Money for Nothing, do Dire Straits, Losing My Religion, do R.E.M, Without Me, de Eminem e Bad Romance, de Lady Gaga, das décadas de 1980, 1990, 2000 e 2010, respectivamente.

Critérios de seleção dos videoclipes

O recorte temporal da pesquisa é de 1984 a 2019. Os critérios de seleção adotados foram a conquista do prêmio de Vídeo do Ano do VMA e o recorde de visualizações no YouTube. Inicialmente, os clipes ganhadores de cada década foram descobertos e comparados com outros vencedores da mesma década, aquele que possuía o maior número de visualizações no YouTube foi escolhido.

Metodologia

O método de investigação usado foi a análise fílmica, definido por Vanoye e Goliot-Lété (2002). A análise levou em consideração elementos estéticos, como a fotografia e o tipo de enquadramento, porém focou principalmente no contexto social e político dos vídeos. Além disso, dialogou com outros autores que já escreveram sobre temas relacionados e com aqueles que escreveram também sobre os videoclipes selecionados.

O panorama constituído pelos quatro videoclipes analisados é bem diversificado. Veja, a seguir, as principais características de cada um.

MONEY FOR NOTHING

Dire Straits

O clipe retrata, em forma de animação 3-D, uma crítica social voltada ao mercado da música. A produção audiovisual representa imagens da banda fazendo a performance da música em um show com a mistura da ação de dois personagens principais. O clipe se relaciona com as vinhetas da MTV e menciona dois clipes fictícios. Foi o menos premiado das obras analisadas, com duas vitórias.

LOSING MY RELIGION

R.E.M

Nessa produção audiovisual, figuras religiosas são retratadas de maneira metafórica. A narrativa da obra é mais fragmentada, leva poucos frames para se desenvolver e consiste em cenas na qual a banda faz a performance da canção, com destaque ao vocalista Michael Stipe.

O videoclipe é completamente rico em citações de obras de arte e faz alusão de forma direta às pinturas renascentistas. Também usa referências imagéticas da cultura indiana e da religião católica.

WITHOUT ME

EMINEM

Essa produção audiovisual retrata Eminem e o rapper Dr. Dre, seu amigo, partindo para uma missão que consiste em impedir que um garoto ouça o CD The Eminem Show. A narrativa que dialoga com os quadrinhos se desenvolve ao longo de todo o vídeo. Histórias paralelas são apresentadas rapidamente. O protagonista, Eminem, debocha de pessoas famosas e de reality shows.

BAD ROMANCE

Lady Gaga

Esse videoclipe faz referência ao gênero cinematográfico rape and revenge. A narrativa retrata a exposição “monstruosa” da protagonista, a qual foi reduzida a uma mercadoria por meio de um leilão e que, posteriormente, obteve redenção/vingança. Essa produção é a mais nova entre as obras analisadas, assim como foi a que mais se destacou, com sete conquistas no VMA.

ANÁLISE

A análise dos clipes tornou possível perceber as características em comum e traçar um perfil de como eles conseguiram destaque na MTV e no YouTube. A seguir, a lista dos resultados obtidos pela pesquisa: 

  1. apresentam uma narrativa;
  2. nenhum deles apresenta conteúdo violento ou sexual explícito;
  3. envolvem a questão da nostalgia;
  4. cada um desses clipes se relaciona com um tipo de obra de arte ou produção cultural diferente;
  5. apresentam indícios do contexto histórico e social da época em que foram lançados;
  6. contaram com diretores renomados na área;
  7. nenhum dos videoclipes segue fielmente o formato tradicional de curta-metragem.

Em relação ao primeiro item, pode-se concluir que todos apresentam narrativas de fácil compreensão, exceto Losing My Religion que exige um pouco mais de atenção de quem assiste, e que em algum momento fazem uma transcrição literal da letra em imagem, resultando em uma compreensão mais assertiva da produção audiovisual por parte do telespectador. Além disso, em todas as narrativas, os respectivos artistas aparecem e, no caso de Eminem e de Lady Gaga, os cantores desempenham o papel de protagonistas.

Em relação ao conteúdo violento ou sexual explícito, é possível apontar que eles não mostram o uso de drogas ilícitas, assim como nenhum deles exige confirmação de idade para ser reproduzido no YouTube e não há notícias de que algum tenha sido banido da MTV brasileira ou norte-americana.

A respeito do terceiro item, pode-se apontar o sentimento de nostalgia como um fator que impulsiona o sucesso desses videoclipes, em especial no meio digital, principalmente por não se tratarem de obras recentes. Ao observar no YouTube, percebe-se que em todos os clipes os usuários expressam o saudosismo através dos comentários e pelo número expressivo de reproduções, os quais ultrapassam a marca de 100 milhões.

O quarto item destaca a relação dos clipes com outros tipos de obras de arte ou produção cultural, por exemplo, outros videoclipes, vinhetas, pinturas, animação em 3-D, quadrinhos e referências a outros gêneros cinematográficos.

Quanto ao contexto sócio-histórico do lançamento, em quase todos os clipes há indícios de tendências tecnológicas como televisões de tela plana, uso de videochamadas via celular e expansão de atividades econômicas por meios virtuais como leilões.

Vale destacar também, com relação ao contexto histórico, que os dois primeiros clipes analisados, os quais se enquadram no gênero rock, obtiveram sucesso nas premiações por estar em alta na época –posteriormente, o gênero foi perdendo o destaque. O penúltimo item relaciona os diretores e as respectivas produções expressivas na área, em média 50 clipes cada, exceto o diretor de R.E.M com apenas 11 videoclipes em seu currículo.

Por fim, o fato de que nenhum deles segue de maneira fiel a forma tradicional de curta-metragem, e por terem uma duração não muito longa, sem presença de diálogos falados, entre outros fatores, facilita serem reproduzidos inúmeras vezes e acumularem milhares de visualizações.

Pode-se concluir que mesmo com narrativas heterogêneas foi possível descobrir os elementos que os unem. Por meio da análise fílmica, foi identificado que todos “contam uma história” e nenhum deles apresenta conteúdo indicado apenas para telespectadores maiores de 18 anos. Bad Romance e Without Me compartilham um atributo em comum, dialogam de maneira direta com outros videoclipes dos respectivos artistas. Losing My Religion destacou-se pela singularidade, contando com um diretor que teve menos trabalhos na área e por não antecipar tendências tecnológicas, entre outros pontos. Bad Romance também merece destaque por ser o mais premiado no VMA, ter o maior número de visualizações no YouTube, ter sido o único a ser postado no YouTube perto da sua estreia na MTV, e claro, por conter cenas de merchandising de diversos produtos.

Por fim, Alfredo considera interessante a possibilidade de descobrir novas características em comum entre clipes de sucesso e sugere aprofundar a análise, explorando trabalhos mais atuais e de diferentes gêneros. Sugere também ampliar as categorias do VMA analisadas, para além de Clipe do Ano, a qual foi utilizada nessa análise específica.

Obrigada, audiovisual! Graças à produção audiovisual é possível conhecer mais sobre o contexto social, as novas gerações e as tendências culturais da sociedade.