De onde vêm as ideias?

Os projetos de animação estimulam o trabalho criativo. Como não é necessário representar ou mostrar o mundo real, a imaginação fica livre para dar vida a objetos inanimados, a seres de outros mundos e a ambientes incríveis.  

Por ser um mundo fictício, o universo da animação pode ignorar as leis do mundo físico, mas precisa convencer o espectador.

A história, as emoções dos personagens, o clima, as tensões precisam ser pensados de forma a envolver o espectador, para que tudo pareça realmente possível ao ingressar nesse mundo imaginário. 

Filipe Cargnin, roteirista e professor de animação, explica como é fazer um roteiro, seja para uma animação ou para um filme:

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 Ao escrever um roteiro, seja ele para uma animação ou para um live action, é necessário desenvolver personagens que tenham objetivos e estruturar a narrativa de forma a criar obstáculos a esses objetivos, pois o conflito, o embate entre forças opostas, é o que faz a história caminhar para a frente. A animação se destaca pela sua linguagem lúdica, que permite abordar os mais diversos temas, por meio da utilização do exagero, da fantasia e de metáforas visuais.

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Mas de onde vêm essas ideias malucas e poéticas presentes nas histórias, personagens, cenários e detalhes das animações? Veja alguns exemplos.

Então tudo começou com uma ideia simples que era:  vamos fazer o máximo de trabalhos sobre gatos possíveis na faculdade, uma ideia nobre passada pela minha amiga e coprodutora Giulia (@sharksocks). O nome Jenifurr veio de outro trabalho no qual ela seria uma gata normal reclamando da dona dela em um bar com outros gatos, um desses sendo o Catnip. Então, com a personagem principal em mente, nós começamos a esboçar as ideias de como ela seria (design) e a história dela. A ideia de que ela seria uma gata mimada reclamando da vida em um bar, não se mostrou a mais interessante para a personagem. Tivemos que mudar.  Queríamos um design fofo, porém meio  dark. Então usamos como referência para as roupas dela um estilo gótico, o que complementou a personalidade forte.

Bruno Anderson

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Para estruturar a narrativa também era necessário criar objetivos e obstáculos a serem alcançados.

Precisávamos de um objetivo. E o que é melhor pra uma gata punk  do que querer invocar o capeta em pessoa pra poder criar a melhor ração para ela?

Bruno Anderson

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Com o design da personagem principal definido, Bruno conta que criar os personagens secundários foi mais fácil. Eles buscaram, como muitas vezes ocorre, uma personalidade bem diferente, o oposto do personagem principal, para criar o Luciffur. Ele é preguiçoso, egocêntrico e não tem um objetivo em mente, pois sendo o rei de uma dimensão inteira ele já teria tudo o que pudesse querer. Assim, para definir o design, decidiram subverter as expectativas.

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Então pensamos o quão engraçado a imagem de um gatinho pequeno, rosa bebê, com um terno e gravata, em cima de uma mesa gigante seria, e foi assim que o gatinho Lucifurr nasceu. Já nosso peixinho, pensando na ideia de não só ele ser umsushiman quanto ser um otaku (alguém que é obcecado com a cultura japonesa e com a mídia de lá, animes).

Bruno Anderson

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Outro exemplo é o trabalho de João Padilha que, por sua vez, começou pela história. 

Ele considera importante idealizar a história, entretanto, no momento de escrever, ele faz uma versão resumida, começando pela base dela, e delineia algo que seja possível realizar com os recursos disponíveis.

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Com toda certeza foi um dos trabalhos mais divertidos que fiz durante meus estudos no Câmpus Palhoça. O desenvolvimento do projeto foi totalmente experimental, tive que idealizar uma história e tentar escrever o mínimo de detalhes possíveis, apenas uma estrutura de fatos que formariam uma pequena história, já que eu não sabia ainda o que eu estaria apto a conseguir fazer. Então, com a estrutura da animação já produzida, aperfeiçoei os movimentos, expressões e efeitos sonoros até ficar satisfeito.

João Padilha

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Depois de definir a história, os personagens são detalhados, e isso precisa ser feito com cuidado para realmente dar vida à animação. João chama a atenção para a importância de planejar a personalidade da personagem, e não apenas os aspectos visuais e seus movimentos. E nos oferece uma dica:

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Pense na personalidade desse ser imaginário. A aparência dele é muito importante, mas sem uma personalidade que a justifique ou complemente, seu trabalho fica com muito menos vida. Ao escrever, idealize um tom de voz (mesmo que ele não fale), pense em como ele demonstra sentimentos como medo, raiva, tristeza e amor. Esses simples sentimentos já servem de guias para o desenvolvimento e solidificação desse personagem.

João Padilha

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Já o processo criativo da animação de Lais Rovani foi completamente diferente.

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Eu escolhi primeiro o estilo da minha animação, que foi em Rotoscopia. Me baseei no vídeo da banda Coldplay, ‘Strawberry Swing’, um dos meus clipes favoritos. A base do roteiro foi em cima desse vídeo com algumas alterações. Eu escolhi mudar a história para conseguir também mudar o final, e não resumir um super-herói a sempre salvar uma mulher/princesa ‘indefesa’. A ideia de precisar ser salva, para mim, não nos cabe mais.

Lais Rovani

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O insight    criativo é imprevisível.

Alguns chamam de caixa-preta, pois não se consegue entender completamente como ocorre ou o que pode favorecer que aconteça. É mágico. 

Entretanto, todos concordam que a animação não depende apenas da ideia, exige muito trabalho e o desenvolvimento é demorado. A história, as emoções características de cada personagem, os cenários, figurinos, ritmo e todos os elementos da linguagem audiovisual precisam ser pensados de forma a envolver o espectador. Só que para amarrar todos esses elementos presentes em uma animação, é necessário criatividade e, também, muito trabalho.