O filme Outubro 16 é resultado de um projeto do NUPPA (Núcleo de Produção e Pesquisa Audiovisual do Curso Superior de Tecnologia em Produção Multimídia), coordenado pela professora Fabiana Bubniak.

É uma produção bilíngue (Português e Libras) que aborda a ocupação das escolas pelos estudantes, ocorrida em outubro de 2016. A ocupação foi um protesto contra as medidas adotadas pelo governo Temer como a reforma do Ensino Médio e o congelamento dos gastos públicos por vinte anos.

A personagem principal é uma jovem surda que entra em conflito com o pai ouvinte por causa da sua participação no movimento estudantil. A história se desdobra de forma surpreendente, mas mais do que um segredo da família, nos revela aspectos interessantes da cultura surda e da enriquecedora relação entre os surdos e os ouvintes.

Luciano dos Santos Alves, roteirista e diretor do filme, também desenvolveu seu trabalho de conclusão do curso analisando a construção do filme Outubro 16. Ele observa que, diferentemente do que geralmente ocorre, o filme não privilegia o público ouvinte.

Uma atriz surda, Jullie Trilha, representa a personagem surda, e quando ela sinaliza não é feita a tradução para o português.

Baseando-se na expressividade corporal e facial da atriz para passar as emoções e o sentido de seu discurso, o filme segue uma linha de raciocínio que privilegia os movimentos dos atores, seus gestos, suas expressões faciais. Cada gesto tem mais impacto do que se fosse mero complemento de uma palavra falada.

Luciano Alves

Conforme afirma Luciano, essa é uma escolha estética e política. A opção de deixar os ouvintes acompanharem a história e preencherem as lacunas deixadas pelas falas em Libras, imaginando seus possíveis significados, inverte a lógica predominante que favorece o público ouvinte. Tal estratégia tem como objetivo causar estranheza e desconforto, ou seja, fazer pensar.

As escolhas feitas tem como objetivo demarcar as fronteiras entre a comunidade surda e a ouvinte. Tencionar esse relacionamento de forma a expandir a noção que os ouvintes têm em relação ao povo surdo. Ao expor um pouco da sua língua e da sua forma de ser é possível constatar que há sim na tela um ser humano diferente da maioria, porém igual a todos. Com os mesmo problemas de relacionamento entre pais e filhos, com as mesmas preocupações políticas e com as mesmas questões de afetividade. A humanidade transparece como sendo a mesma, porém a língua é diversa. E neste filme ela se faz notar.

Luciano Alves

Saiba mais sobre o NUPPA, a produção do filme e a pesquisa de TCC do Luciano nos links:

Conversamos também com o diretor, produtores e atores para conhecer mais sobre os desafios enfrentados na produção do filme. Perguntamos o que eles mais gostaram no resultado do trabalho, o que aprenderam com o desenvolvimento do projeto e o que recomendam para aqueles colegas que querem trabalhar com produção audiovisual abordando elementos da língua e da cultura surda.

Eles destacaram a experiência de participar de um projeto tão grande, com o envolvimento de todas as turmas do curso de Tecnologias em produção multimídia e de vários professores e intérpretes como muito importante para a formação profissional.

Foi superinteressante, após a estreia, quando ficamos sabendo o que as pessoas acharam, os debates sobre o nosso curta e as portas que se abriram após isso. Eu nunca tinha trabalhado em um set e aprendi tudo na prática. As dificuldades vivem caminhando ao lado das soluções. Em todo o set é assim, mas com uma equipe unida e esforço tudo se resolveu e conseguimos um bom resultado. Além da minha função que era o áudio, pude ter noção de como é o trabalho de cada um e isso me ajudou bastante nas produções que vieram depois do Outubro 16.

Gabrielly Viegas – Estudante IFSC

A necessidade de se esforçar para usar a Libras na comunicação com os surdos, já que o português é insuficiente para isso, foi o maior desafio apontado, mas também o que gerou a maior aprendizagem.

E eles recomendam:

Leiam sobre cinema, vejam filmes e façam filmes, não interessa como. Apenas comecem.

Luciano Alves

O set é um lugar divertido, mas nem tudo são flores. Aproveitem todas as oportunidades, engulam seco, façam trabalho voluntário, sejam proativos e, se fizerem isso, vejam as portas se abrirem para vocês.

Gabrielly Viegas – Estudante IFSC