VÍDEOS BILÍNGUES PARA O YOUTUBE:

os desafios na produção

Criar conteúdo em vídeo tem sido algo cada vez mais difundido, principalmente por esse formato ser muito procurado pelos internautas, ouvintes e surdos. Isso acontece, porque assistir vídeos é uma maneira prática e, até mesmo, mais fácil de aprender sobre assuntos diversos. Mas, quais são os desafios encontrados ao produzir conteúdo em vídeos? E se forem bilíngues Libras/Português?

Estudantes de Tecnologia em Produção Multimídia criaram canais de vídeos bilíngue para o youtube: Miss Pencil, que tem a proposta de ensinar a desenhar e Sinal de Moda, o qual disserta sobre o mundo da moda. E os idealizadores nos contam como foi o trabalho.

Logo na pesquisa por vídeos bilíngues na plataforma do Youtube perceberam a falta desses tipos de canais e conteúdos, como explica Jéssica, participante do canal Sinal de Moda:

baster

Ao pesquisar canais de vídeos que abordavam o tema moda, encontramos vários voltados ao público ouvinte, mas nenhum voltado ao público surdo. O mais próximo desse tema foi um vídeo que falava sobre maquiagem, mas não especificamente sobre moda. Acredito que o nosso canal foi o primeiro.

Todo projeto de identidade visual, incluindo nome, marca, linguagem e elementos visuais foram pensados a partir do tema escolhido e da proposta bilíngue Libras/ Português.

Os vídeos bilíngue precisam ter acessibilidade para todos os públicos, possuir áudio descrição, língua de sinais e legenda. Isso foi um desafio para mim. Eu não consigo ouvir, então para fazer legendas ou colocar a voz nos vídeos eu sempre dependo de alguém para me auxiliar. Se eu estivesse sozinho não conseguiria fazer um vídeo desse tipo.

Darley Goulart

Darley Goulart, um dos criadores do canal Miss Pencil, explica que o trabalho em equipe é fundamental para produzir esse tipo de vídeo:

Os vídeos bilíngue precisam ter acessibilidade para todos os públicos, possuir áudio descrição, língua de sinais e legenda. Isso foi um desafio para mim. Eu não consigo ouvir, então para fazer legendas ou colocar a voz nos vídeos eu sempre dependo de alguém para me auxiliar. Se eu estivesse sozinho não conseguiria fazer um vídeo desse tipo.

Darley Goulart

No desenvolvimento dos trabalhos, foi necessário equilibrar as diferenças linguísticas, começando na elaboração do roteiro, passando pela sinalização, dublagem, legendas, até chegar na edição final. Esses processos precisavam ser bem articulados, levando em consideração não só as exigências técnicas, como também a questão cultural, tanto da comunidade surda, quanto dos ouvintes. Entender a cultura do público alvo é essencial em qualquer projeto, mas em uma perspectiva bilíngue o trabalho exige ainda mais atenção.

No vídeo de apresentação do canal Miss Pencil foi utilizado, de forma criativa, o foco apenas nas mãos. Mesmo sabendo que na Libras se utiliza uma combinação de configuração de mãos, pontos de articulação, movimentos e expressões faciais, os alunos optaram por usar essa estratégia para enfatizar os sinais.

O aluno Darley esclarece:

As sinalizações feitas especificamente neste vídeo, são sinalizações bem curtas. Utilizamos essa técnica apenas nesse vídeo introdutório para causar a impressão que a pessoa estivesse olhando quem está sinalizando e desenhando, em uma câmera subjetiva. Usamos essa didática, porque, tradicionalmente, vemos uma tela onde a pessoa que está sinalizando está no centro da tela, e só sinaliza. A gente usou esse plano de detalhe, pois desperta a curiosidade, destaca os sinais e os desenhos. A nossa ideia é difundir a língua de sinais e mostrar os desenhos para o público do nosso canal. Mas, se fosse um texto muito longo, não seria possível usar essa técnica.

Sem dúvidas os vídeos bilíngues Libras/português oferecem um nicho fértil de trabalho, e ainda pouco explorado, mesmo com a grande demanda de consumidores.

A estudante surda Suzana, que busca sempre esse tipo de canal de vídeos, sugere que eles sejam:

(…) bem visuais, com informações claras, cores que chamem a atenção e que tenham postagem diária.

Ela propõe, também, que se divulguem os vídeos, compartilhando os links, principalmente pelo instagram, já que os surdos utilizam bastante essa rede social.

Essas são algumas dicas para os produtores multimídia que têm uma preocupação com a acessibilidade dos surdos.

A partir dessa conscientização e aprendizado, se começa a pensar e a produzir conteúdos mais acessíveis e relevantes, não apenas para o Youtube, mas para todos os meios e plataformas de comunicação onde se utilizam vídeos como sociabilidade.

Kelvin Bruno