A transformação digital na educação é um tema muito discutido entre e nas instituições de ensino e se tornou ainda mais saliente durante a pandemia da covid-19. Com a suspensão das aulas presenciais, a tecnologia foi fundamental para a continuidade do ensino no período de distanciamento social.

Mas essa transformação trouxe muitos desafios, principalmente para os professores. Entre eles está a adaptação das aulas para o formato digital sem perder a qualidade de ensino. Portanto, teve-se que adotar novas metodologias e novas ferramentas.

No Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) não foi diferente. Quando começaram as medidas de distanciamento social, abriu-se um amplo debate a respeito do processo de adaptação das ofertas de educação profissional. As discussões resultaram em uma resolução que estabelece orientações para realização de Atividades Pedagógicas Não Presenciais (ANP) e atendimento da carga horária letiva. Assim, surgiu o Programa de Qualificação de Atividades Não Presenciais (PQ-ANP), do Instituto Federal de Santa Catarina.

O PQ-ANP iniciou seus trabalhos em outubro de 2020 com o objetivo de contribuir com a comunidade acadêmica e com as atividades docentes de produção e qualificação de materiais didáticos e ambientes virtuais de aprendizagem, para utilização durante o período pandêmico e para uso posterior. Por meio do programa, diversos profissionais atuaram em atividades de coordenação, produção de conteúdo, design educacional, produção multimídia e revisão de todo conteúdo.

No início dos trabalhos, uma equipe ficou responsável por elaborar o projeto de identidade visual. Inicialmente, foram definidos os conceitos que iriam nortear o desenvolvimento da marca. Considerou-se que o programa de qualificação não deveria se sobressair; as atividades não presenciais, desenvolvidas pelos professores, seriam o destaque. O programa oferece um olhar dos designers instrucionais e da equipe técnica visando contribuir com os ajustes necessários para que os materiais possam ser reaproveitados e usados por outros professores em diferentes unidades curriculares.

Quando esses materiais começaram a ser produzidos, não havia o entendimento de que seriam reutilizados. Muitos professores não tinham experiência na produção de materiais para estudo a distância e os alunos precisavam de orientações relacionadas ao andamento das atividades e aos encaminhamentos dados pelo IFSC para o enfrentamento da pandemia. Então, esses materiais foram feitos com qualidade no que se refere ao conteúdo, mas sem um planejamento adequado para uso em longo prazo, apresentando problemas como orientações para uma turma ou um momento específico, estando relacionado com uma atividade em andamento, sendo grande demais ou pequenos demais para a organização dos tópicos de estudo, não estavam organizados com orientações, atividades e materiais complementares de forma a proporcionar um estudo autônomo e não tinham uma identidade coerente. Nos conceitos, além da sutileza do programa, definiu-se que a marca deveria transmitir cuidado com os detalhes, tecnologia e estar relacionada com a identidade do IFSC.

Conforme a professora Renata Krusser, o desenho do pq (programa de qualificação) representa um binóculo, que traz um olhar atento e detalhado ao material e foram usados diferentes tons de verde para relacionar com a marca do IFSC.

Após a definição da marca, iniciou-se o desenvolvimento de outros materiais que seriam usados no programa, como definição dos templates direcionados a textos didáticos, templates para apresentações dos conteúdos das aulas, vinhetas para abertura e fechamento das videoaulas, trilhas sonoras para os podcasts e assim por diante.

A seguir, é possível visualizar alguns desses materiais.

Nos primeiros sete meses de trabalho, o PQ-ANP qualificou mais de 1.600 objetos de aprendizagem, entre videoaulas, apostilas, slides, podcasts e criou 74 Ambientes Virtuais de Ensino e Aprendizagem (Avea) no Moodle, para o compartilhamento dos materiais com a comunidade.

https://moodle.ifsc.edu.br/course/view.php?id=10731

Para isso, o Moodle também foi adaptado aos objetivos do programa para receber os conteúdos e para apresentar uma metodologia coerente com o ensino a distância. Tudo pensado para ser de fácil acesso tanto para os alunos, quanto para os professores. Assim, os ambientes virtuais receberam uma nova roupagem, coerente com a identidade visual definida para o programa.

As seções dos ambientes virtuais, em vez de serem apresentadas apenas em formato de texto, receberam uma imagem para deixar o ambiente mais leve, agradável, além de organizar todo o conteúdo. Foram desenvolvidos rótulos com ícones para diferenciar os conteúdos dentro de um mesmo estudo, por exemplo:

Além do Moodle, os materiais foram compartilhados em outras plataformas como o YouTube, em que é possível encontrar todas as videoaulas produzidas pelo programa; um canal de podcast com as aulas em formato de áudio e uma revista com os textos didáticos.

Entre os materiais ofertados, as videoaulas levaram em conta as especificidades dos alunos surdos, já que o IFSC dispõe de um campus que busca viabilizar uma efetiva interação entre surdos e ouvintes no campo educacional e profissional, o campus da Palhoça Bilíngue localizado em Palhoça/SC. Assim, foi organizada uma equipe para pensar e trabalhar nos materiais didáticos em Libras a fim de entender as demandas e deixar os materiais acessíveis ao público com deficiência auditiva. Então, a equipe estudou a diagramação dos diferentes materiais recebidos, levando em consideração as recomendações de acessibilidade disponibilizadas pela ABNT, pois não bastava pegar uma videoaula e fazer uma interpretação em Libras, era preciso adaptar a interpretação ao material.

Além de tudo, com o distanciamento social, não era possível usar o estúdio para as gravações e os intérpretes tiveram que realizar as gravações em suas residências, o que gerou diferenças na imagem gravada e na iluminação do material recebido pela equipe de edição. Dessa forma, enfrentando esses desafios e outros mais que a pandemia impôs, a equipe desenvolveu um template para as videoaulas em que a janela do intérprete não poderia invadir o conteúdo apresentado na videoaula. Desse modo, o intérprete passou a ocupar ⅛ da tela que estava sendo exibida no fundo.

Segundo Marcelo Freitas, essa solução ainda não é a melhor para o surdo, mas foi a solução que se adaptou melhor aos materiais do programa e que atende a norma de acessibilidade da ABNT.

Como pode ser visto, os materiais desenvolvidos pelo PQ-ANP foram desenvolvidos por muitas mãos, através de um trabalho compartilhado em um ambiente compartilhado proporcionado pela tecnologia.

Como pode ser notado, a pandemia acelerou um processo que já era previsto no ensino, mas que obrigou as instituições a andarem a passos mais largos rumo a uma imersão digital.